🧠 Brainstorming com AI

E se, ao tentarmos pensar "fora da caixa", a IA estiver, silenciosamente, nos colocando todos dentro da mesma caixa? A sua ideia mais genial pode ser a mesma de todo mundo.

O artigo apresenta uma série de estudos recentes que trazem um paradoxo desconfortável: enquanto a IA pode tornar um indivíduo mais criativo, ela torna o grupo coletivamente menos diverso. Quando todo mundo usa o ChatGPT para gerar ideias, acabamos com dezenas de variações da mesma solução. É como se todas as pessoas de uma equipe criativa de agência decidissem usar a mesma paisagem para um anúncio, somente com árvores posicionadas em lugares diferentes.

O Efeito Nivelador

Pesquisadores de Wharton descobriram algo fascinante ao pedir para pessoas criarem brinquedos usando um tijolo e um ventilador. Individualmente, as ideias daqueles que usaram ChatGPT receberam notas mais altas em criatividade. A AI funcionou como um nivelador, elevando o trabalho dos menos criativos ao nível dos naturalmente talentosos. Parece uma vitória democrática, certo? Mas quando analisaram o conjunto total de ideias, apenas 6% das soluções geradas com ChatGPT eram únicas, contra 100% de originalidade no grupo sem AI. É como se todos os chefs usassem o mesmo “ingrediente secreto” sugerido por IA, criando pratos com a mesma alma.

O Problema da Medição Instantânea

Mas será que criatividade está sendo medida da forma correta? Os estudos tratam a interação com AI como um momento único: você pede ideias, a AI responde, fim. Na realidade, criar com AI é um processo iterativo. Você pega uma ideia do ChatGPT, critica, refina, usa como trampolim para algo completamente diferente. O ponto crucial que não foi considerado nos estudos: a diversidade inicial é apenas uma “foto”. O que realmente importa é a diversidade dos resultados finais. Um escritor pode começar com a mesma ideia de roteiro que outros 20, mas através de iterações e refinamentos, chegar a algo genuinamente único. Os estudos não capturam essa evolução - eles fotografam o início da corrida e declaram o vencedor.

A Nova Realidade Criativa

O verdadeiro insight não é abandonar AI no brainstorming, mas entender seu papel apropriado. Para pessoas menos criativas, é um elevador de piso. Para a fase de exploração inicial, humanos ainda superam máquinas em pensamento verdadeiramente único. Já para refinar e executar uma ideia que já existe, a capacidade da IA de focar em uma solução pode ser exatamente o que você precisa.

O perigo real é um setor inteiro começar a pensar da mesma forma sem perceber, adotando as mesmas "fórmulas" de criatividade ditadas pelos modelos de IA. A solução para isso é simples: sempre comece com suas próprias ideias antes de pedir ajuda a um chat. Consulte diferentes ferramentas, como ChatGPT, Gemini e Claude, para ter uma variedade maior de respostas. Além disso, desafie a IA com perguntas inesperadas.

No fim das contas, a lição é que, quando todo mundo tem acesso ao mesmo superpoder, o grande diferencial volta a ser o seu pensamento único e imprevisível – aquele que nenhuma máquina consegue replicar.

🔎 O Dilema da Inovação do Google

Uma pesquisa do Pew Research Center revelou uma contradição curiosa na estratégia do Google: os novos resumos de Inteligência Artificial que aparecem no topo das buscas podem estar destruindo o próprio modelo de negócio que tornou a empresa gigante. Usuários que veem esses resumos têm metade da probabilidade de clicar em links (8% contra 15%).

Como funciona na prática

Quando a IA já entrega a resposta pronta, as pessoas simplesmente perdem o motivo para clicar nos links dos sites. Os números da pesquisa mostram isso claramente: a chance de um usuário clicar em um link cai pela metade com os resumos, despencando de 15% para apenas 8%.

E o mais revelador é que um em cada quatro usuários, ou 26% do total, simplesmente lê a resposta da IA e fecha a página, satisfeito, sem precisar ir a lugar nenhum.

Pense nas buscas práticas do dia a dia. Se você pergunta "quais os sintomas da gripe?" ou "como trocar um pneu?", a IA do Google já entrega a resposta completa na sua frente. Com isso, desaparece a necessidade de visitar qualquer outro site.

Enquanto isso acontece dentro do Google, a concorrência avança por fora. Ferramentas como o ChatGPT e o Perplexity já abocanharam 5,6% de todo o mercado de buscas nos Estados Unidos, uma fatia que simplesmente dobrou de tamanho em apenas um ano.

Apesar desse cenário, o Google apresentou resultados que desafiam a lógica: uma receita recorde de US$ 54,2 bilhões com buscas no último trimestre, o que representa um crescimento de 12% em comparação com o ano anterior.

O dilema da inovação

É um caso clássico de inovação que canibaliza o próprio negócio. Cada resumo de IA que satisfaz completamente um usuário é uma receita publicitária perdida, já que os anúncios estão nos sites que as pessoas deixaram de visitar. É o dilema que a Kodak viveu anos atrás: Em 1975, um engenheiro da empresa criou a primeira câmera digital, mas a Kodak enterrou a invenção porque destruiria seu lucrativo negócio de filmes fotográficos. O resultado? A Kodak foi à falência anos depois quando outros desenvolveram a tecnologia digital. O Google parece estar indo por outro caminho: decidiu ser o primeiro a destruir seu próprio modelo de negócios antes que outros o façam.

Imagine descobrir que um de seus maiores concorrente está, na verdade, trabalhando de graça para você. É mais ou menos isso que está acontecendo entre o ChatGPT da OpenAI e o YouTube do Google.

Um levantamento da Similarweb mostrou que o YouTube recebeu absurdos 37,9 milhões de visitas vindas de chats de IA em maio, mais de três vezes o que o Facebook e a Wikipedia receberam juntos.

O motivo é simples: as pessoas estão usando a IA para perguntar "como fazer" as coisas, e a melhor resposta para isso quase sempre é um vídeo. Perguntas como "aprender inglês" ou "consertar um vazamento" levam direto para tutoriais no YouTube, não para páginas de texto.

A parte mais interessante é que 75% do tráfego de alguma IA para o YouTube veio diretamente do ChatGPT. Na prática, a OpenAI está mandando milhões de usuários para o quintal do seu principal rival. Isso revela a nova realidade da internet: os chats estão se tornando os "bibliotecários" que organizam o fluxo de informação. Nós não "buscamos" mais, nós "perguntamos", e a IA decide para onde nos mandar.

O jogo mudou. Otimizar seu conteúdo para ser a resposta preferida de um chat de IA pode se tornar mais importante que o SEO tradicional. A diferença é que a briga não é mais por uma posição no ranking do Google, mas para se tornar a referência principal na "mente" da IA.

⚡ Quick Hits

  • Um roadmap de AI tools para cada tipo de função:

  • O CEO da Perplexity, Aravind Srinivas, compartilhou sua jornada e visão de como criar produtos de sucesso em conversa com a Y Combinator. 🚀 O Department of Product resumiu os principais insights:

Para assistir a conversa completa:

🔧 Cool AI tools

Obrigado por ler o AI Around the Horn.

Perdeu alguma edição? Recupere todos os posts anteriores aqui.

Keep Reading

No posts found